segunda-feira, 6 de agosto de 2012

Um índio chamado Galdino



A chegada dos navegadores europeus ao Novo Mundo foi marco de mudança crucial. Mudança principalmente para aqueles que aqui, nessas terras americanas, se encontravam. Aquela carta de Pero Vaz de Caminha relata o encontro entre os dois mundos com olhos europeus e desejos de mercador. Os habitantes da terra nova, com água em abundância e beleza extenuante, são vistos como futuros cristãos, solo e almas férteis para a expansão do império católico.

O que se viu, testemunhado pelo tempo, foi o massacre, a derrocada de nações autóctones, o extermínio, o saque. À cruz fincada no chão sucedeu a espada fincada no ventre. Ao latim da primeira missa sucedeu a língua portuguesa engolida tal qual uma pedra de fogo, cordas vocais abaixo. 
Sobre suas lendas e mitos, foram derramadas as histórias de cavalaria e os resquícios romanos e gregos. Fundava-se, sobre a beleza da cultura oral, os alicerces do seu próprio sepulcro.

A flecha tombou cansada, adormeceu na calçada, perdendo o último ônibus da história. O caso do índio Galdino Jesus dos Santos, incendiado por adolescentes em Brasília, capital federal da república brasileira, em abril de 1997, é o ápice indicador do genocídio. 

O seu nome, o nome do índio, é o atestado final da desgraça: um sobrenome adquirido dos sem família. Um índio chamado Galdino. Um índio chamado Jesus. Dos Santos. De hoje, Dia Nacional do Índio, para amanhã, completam-se 15 anos desse assassinato, iniciado em 1500.
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